TRANSFERÊNCIA

Maricleide Pereira

Rio de Janeiro, RJ
Setembro de 2021

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é analisar o fenômeno da transferência na obra
freudiana, a partir dos textos de Freud, para auxiliar neste conceito foram utilizados
textos das autoras, Roudinesco e Maurano, sobre o fenômeno da transferência na
relação analítica e no cotidiano da vida do sujeito. A transferência possibilita ao
paciente reviver afetos inconscientes e, quando ela é bem manejada, abre-se uma
possibilidade de mudanças profundas. Para Freud, na transferência, o material reprimido
pode se tornar consciente, desde que as resistências sejam quebradas. O autor ainda
ressalta a importância da análise do psicanalista. A partir da sua própria análise o
analista poderá perceber e manejar a questão transferencial do paciente. E por fim, a
análise é uma ferramenta fundamental para se elaborar e ressignificar algumas histórias
do sujeito que o causa sofrimento.

Palavras-Chave: Transferência. Positiva. Negativa. Erótica. Manejo.

INTRODUÇÃO:

A transferência é um termo fundamental na teoria psicanalítica. Em 1900, Freud
trouxe esse termo junto com a interpretação dos sonhos, mas ele já começa a perceber
isso um pouco antes, na clínica com as histéricas. Ela surgiu com a obra sobre o estudo
da histeria escrita por Freud e Breuer publicada em 1895 (MAURANO, 2006).
Esse surgimento da transferência se dá quando Freud estava desenvolvendo a
psicanálise, foi atendendo os seus pacientes que ele identificou a presença dessa
particularidade transferencial no processo analítico, que os sentimentos, os afetos dos
sujeitos, não eram dirigidos exatamente para ele, o paciente enxergava na figura do
médico pessoas de suas vivências passadas (MAURANO, 2006).
O que transferimos? Em transferência repetimos situações do passado que
aconteceram conosco em outros momentos da vida. Assim, como o nosso modo de amar
em nossos relacionamentos. Em suma, a transferência nada mais é, que o conceito de
repetição (FREUD,1912).
Sigmund Freud, também descobre em suas pesquisas que existem três tipos de
transferência: positiva, negativa e erótica. Elas são carregadas de sentimentos de
ambivalência, de hostilidade, de amor e ódio (FREUD, 1912).
Todavia, o principal instrumento para reprimir a repetição e transformá-la num
motivo para recordar reside no manejo da transferência, termo utilizado por Freud para
indicar como agir com a transferência no início do tratamento (FREUD, 1914).
Em análise o paciente é convidado pelo médico a fazer um trajeto até chegar a
sua história de vida real, nesse processo a neurose de transferência vai diminuindo e o
sintoma neurótico se apresenta (FREUD, 1912).
O objetivo deste trabalho é analisar a transferência em Freud, que será
estruturado em três partes. Na primeira será apresentada a definição de transferência que
surgiu com a obra do estudo sobre a histeria. Em seguida, na segunda parte, será
apresentada os tipos de transferência positiva, negativa e erótica, observadas por Freud
na clínica. E por fim, na terceira parte será apresentado o manejo de transferência, que
vai se caracterizar pela forma como o analista vai conduzir a transferência.

TRANSFERÊNCIA

O termo transferência não vem do vocabulário psicanalítico, vem de outras
terminologias de diversos campos. Entendemos como transferência aquilo que se
desloca de uma coisa para outra, substituição de um lugar por o outro (ROUDINESCO;
PLON 1998).
Sigmund Freud, acaba utilizando essa terminologia na psicanálise. No livro a
interpretação dos sonhos de 1900, Freud apresenta esse conceito no campo psicanalítico
e vai chamar de transferência neurótica. E relata que parte dos acontecimentos que se
desenvolveram ao longo do dia são transferidos para os sonhos e trabalhados pelo
inconsciente: alegrias, tristezas, angústias (FREUD, 1900).
O inconsciente transfere restos de experiências diurnas para os sonhos e
inclusive os conteúdos do nosso passado. Mas ele não ficou só nessa questão onírica, o
autor percebe que essa transferência também acontece em outros momentos da vida do
nosso cotidiano. E para além dos sonhos, quando estamos acordados transferimos o
tempo inteiro os nossos conteúdos psíquicos para os objetos (FREUD,1900).
Mas Freud já começa a perceber a transferência um pouco antes, na clínica da
histeria. Ele passa a assumir esse conceito a partir do abandono do método catártico,
hipnótico, que antes era a principal ferramenta de trabalho da análise das histéricas, em
que as pacientes em estado hipnótico traziam suas questões para serem trabalhadas
(MAURANO, 2006).
Foi assim, que o conceito de transferência surgiu com a obra do estudo sobre a
histeria, escrita por Freud e Breuer em uma parceria publicada no ano de (1893-1895), o
então parceiro de Freud comunica-lhe o caso de uma paciente tratada sob o método
hipnótico. Trata-se de Bertha Papenhaim, que na descrição do caso é denominada Anna
O., cujo tratamento é encerrado precocemente por Breuer (MAURANO, 2006).
Indubitavelmente Breuer teve um papel fundamental nesses primórdios. De certo
modo ele nutriu o que viria a se constituir como psicanálise. Porém foi observando os
impasses que levaram ao fracasso de Breuer no tratamento de Anna O., e investigando
essa explosão de afetos suscitados na relação da paciente com o médico, que Freud
percebeu o fenômeno espontâneo da transferência e a complexidade dessa ligação, o
que levou a renunciar à hipnose e criar o método psicanalítico (MAURANO, 2006).
Quando Freud abandona a hipnose, ele descobre que as mulheres em tratamento
não precisavam estar sobre o estado hipnótico para trazer as suas queixas, que através

da associação livre os conteúdos viriam e teriam grande força nesse processo. E Freud
começa ver que temáticas de transferências passadas se repetiam novamente na clínica,
as neuroses da infância repetidas nas neuroses do adulto. Assim, a transferência acaba
sendo uma nova ferramenta utilizada pela psicanálise (MAURANO, 2006).
Freud (1912), também adverte, que para um indivíduo se tornar analista, se faz
necessário submeter-se a sua própria análise. O autor defendia que o médico passasse
por esse processo de análise, até mesmo para poder perceber a transferência no setting,
quanto mais análise pessoal o médico fosse submetido mais ele teria capacidade para
manejar a questão transferencial com o seu paciente. Nos textos as recomendações aos
médicos que exercem a psicanálise, Freud (1912) afirma que a ausência de análise do
próprio médico, acarretará um prejuízo em seus atendimentos da qual sem esses
instrumentos a prática da psicanálise ficaria inviável.
Segundo Freud (1926) a psicanálise foi exercida desde sua origem por
profissionais que tinham formação em medicina, em a questão da análise leiga o autor é
um ferrenho defensor da prática da psicanálise por não médicos. Nos escritos
posteriores a esse período percebe-se uma ausência desse vocábulo, o qual passa a ser
alterado por analista.
Durante as suas experiências no consultório, Freud verificou que a psicanálise e
a transferência basicamente foram criadas juntas, que o discurso do indivíduo estava
presente nas emoções vividas no momento da análise. Ou seja, durante a associação
livre surgiram sentimentos, mas esses afetos não eram direcionados ao analista, na
realidade são situações vivenciadas pelo paciente voltadas para figuras da infância
(FREUD, 1914).
Quando Freud percebeu que o analisando começou a trazer as figuras do passado
para o setting ele denominou esse movimento de transferência. Essas experiências
infantis são padrões de relacionamentos reeditadas do tempo remoto para o atual e
projetada no analista. Assim, para Freud a transferência seria um deslocamento dos
afetos (FREUD, 1914).
Então, a transferência é um instrumento fundamental para o tratamento das
neuroses. No início dos trabalhos analíticos é constatado por Freud que o fenômeno da
transferência também é baseado no investimento. Quando o paciente está falando sobre
si próprio, repetindo algo da sua vida, ele acaba vendo no analista um lugar de
investimento, sem esse lugar a análise não avança, é uma articulação facilitada pela
associação livre. É importante que nos momentos iniciais do atendimento, o analista

perceba que o paciente encontra-se investindo nele. Identificando que o processo
transferencial está acontecendo o tratamento pode prosseguir (FREUD, 1912).
O que não aconteceu com Breuer no caso Anna O. Ela apresentava a
transferência e ele não estava percebendo, pelo fato de não ter o conhecimento desse
fenômeno. Esta manifestou pelo médico um erotismo que surpreendeu e chocou, pois
em seu relato mencionou que estava grávida de Brauer, que acabou abandonando o caso
porque não soube conduzir a questão da transferência (MAURANO, 2006).
Segundo Freud (1912), a transferência também funciona como uma das formas
de resistência. Como a transferência é uma resistência se ela é importante no
tratamento? A transferência é antagônica, funciona de duas maneiras, ao mesmo tempo
que ela é um obstáculo ela também tem a sua importância. Ainda assim é preciso
utilizá-la como instrumento. Freud ainda afirma em seu texto a dinâmica da
transferência que nada pode ser morto.
Deste modo, a transferência está sempre presente, em todo processo analítico ela
fica oscilando, em um grau maior ou menor. Quando um paciente procura o analista e
relata suas queixas durante as entrevistas iniciais, a transferência vai se instaurar à
medida que o analisando vai associando livremente Freud (1913). A transferência tem a
característica de cobrir o sintoma verdadeiro, quando isso acontece o paciente perde o
interesse pela análise e foca apenas no analista (FREUD, 1915).
Como a transferência é uma repetição ela vai se reproduzindo ao longo do
processo gerando as neuroses, o analisando repete na transferência padrões primevos
infantis da sua personalidade. Desta forma, sintomas, comportamentos e até mesmo
patologias se apresentam para o paciente como algo atual, sem que ele perceba que
esses conteúdos fazem parte do passado. No decorrer do tratamento, o analista precisa
ter esse conhecimento, para tratar o sintoma não como uma situação nova que se faz
presente na transferência, mas como algo do passado que precisa ser trabalhado no
presente (FREUD, 1914).
Roudinesco e Plon (1998), relata que Freud Identificou em sua clínica que o ato
de repetição está incessantemente relacionado a fragmentos da vida sexual infantil, ele
ligou a transferência ao complexo de Édipo. O autor chegou à conclusão que a neurose
original era substituída na análise por uma neurose artificial, ou neurose de
transferência.
Para Freud (1912) todo ser humano por fatores inatos e de experiências infantis
passadas vai adquirir um modo característico de conduzir seus relacionamentos

amorosos, durante a sua trajetória o indivíduo determina as condições para o amor. Essa
característica de amar que Freud coloca vai ser repetida em outros momentos da vida do
sujeito e se estabelece um padrão em relação a forma de amar.
Boa parte dos nossos relacionamentos envolve algum tipo de transferência. Por
exemplo, um sujeito que foi criado por um pai muito violento, o seu ideal em relação ao
amor será a questão da violência. O indivíduo só transfere uma situação agressiva
quando esse padrão foi formado nele, a transferência ela não acontece somente no
setting junto a associação livre, ela também ocorre nas relações do cotidiano, entre pais
e filhos, amizades, chefia, marido e mulher (FREUD, 1914).
Também na relação professor e aluno existe transferência, claro, que nessas
relações os envolvidos não sabem desse processo transferencial (ROUDINESCO;
PLON, 1998). Mas, dentro do setting é obrigação do analista ter esse conhecimento,
caso ele não tenha, o processo analítico tende a dar errado e o paciente se afastar não
querendo mais prosseguir com o tratamento. É preciso o analista ficar atento porque
pode ocorrer uma transferência positiva ou negativa (FREUD, 1912).

TRANSFERÊNCIA: POSITIVA, NEGATIVA E ERÓTICA

Conforme o número de pacientes foi aumentando em seus atendimentos Freud se
debruçou em estudar cada um deles, nessas investigações Sigmund Freud, descobre que
existem três tipos de transferências, são elas: positiva, negativa ou até mesmo erótica
(FREUD, 1912).
A transferência positiva: seria uma transferência carregada de amor e ternura. A
estas ele também acrescentou as transferências mistas, que reproduzem os sentimentos
ambivalentes da criança em relação aos pais (FREUD, 1912).
Transferência negativa: é caracterizada pela hostilidade e sentimentos de ódio.
Quando Freud percebe esses elementos ele chega à conclusão que o paciente está
transferindo de forma negativa para ele, tudo que era hostil estava sendo direcionado a
figura do analista. A transferência negativa também apresentava uma forma de defesa
contra o aparecimento da positiva, o processo é inconsciente, mas em determinados
momentos que ocorria a transferência positiva também surgia a negativa para impedir a
positiva (FREUD,1912).
Elizabeth Roudinesco e Plon (1998) fazem um comentário em seu dicionário,
onde Freud explica a transferência negativa, com a positiva. E cita o caso Dora:

Foi por ocasião da análise de Dora (Ida bauer), em 1905, que Freud teve
realmente a sua primeira experiência, negativa, com a materialidade de
transferência. Ele atestou, a contragosto, que o analista de fato desempenha
um papel na transferência do analisando. Ao se recusar a ser objeto de
arroubo amoroso de sua paciente, Freud opôs uma resistência que, em contra
partida, desencadeou uma transferência negativa por parte dela. Alguns anos
depois, ele qualificaria esse fenômeno de contratransferência

(ROUDINESCO; PLON 1988 p. 767).

Esse é outro exemplo importante na obra freudiana além do caso Anna O.,
supracitado no texto. Dora era uma jovem de 18 anos, Freud atendeu essa paciente no
período de três meses, durante suas análises foram apresentados conteúdos do seu
envolvimento com o Sr. K. e a Sra. K. Freud comenta sobre a família da paciente e
relata dois sonhos que são o resumo do caso. Dora estava transferindo para Freud e ele
não percebeu, não soube manejar pelo fato de desconhecer a transferência. A paciente
abandonou a sessão e não retornou. Depois de alguns anos é que Freud entendeu por
que ela desistiu do tratamento (FREUD, 1905).
A transferência erótica: é quando o analisando se apaixona pela figura do
analista, o paciente perde o interesse no processo analítico focando totalmente no seu
objeto de amor e acaba resistindo ao tratamento. Conforme a transferência erótica vai
acontecendo ocorre o aumento da resistência. Logo, o paciente projeta seus afetos
amorosos nesse analista que ele tanto deseja (FREUD,1915).
No artigo observações sobre o amor de transferência Freud (1915) relata um
caso de uma paciente do sexo feminino, que declara amor pelo analista e quer viver
intensamente essa relação. Dessa forma, a paciente deseja ter uma grande aproximação
com o seu analista.
Freud (1915), orienta os analistas ao perigo de retribuir esse amor que não tem
consideração pela realidade e que é intensificado pela resistência, porém não criado por
esta. O autor também adverte do perigo de não reconhecer que este é um amor
provocado pela situação analítica. A transferência erótica é uma inclinação amorosa,
cuja origem está em uma necessidade sexual direta que produz uma oposição interna de
si própria.
Nessa transferência erótica a paciente não quer falar nem ouvir mais nada além
do seu amor, que ela exige que seja correspondido. Quando isso acontece o analisando
já perdeu o seu interesse em análise e já transferiu os seus afetos para figura do analista.
Diante disto, o foco das sessões passa a ser afetividade, amor e o paciente quer ser
retribuído (FREUD,1915).

É importante ressaltar que esse tipo de situação acaba tendo o encerramento do
tratamento pela paciente e a recusa do analista que não pode ceder a isso, essa é a
questão, o analista não pode retribuir, ele precisa ter ética e manejar bem essa
transferência de forma que a paciente entenda que esse tipo de comportamento não é
viável, sem que haja o abandono do tratamento (FREUD, 1915).

O MANEJO DA TRANSFERÊNCIA

O termo manejo da transferência é utilizado por Freud para indicar como agir
com a transferência que se manifesta no início do tratamento. Esse manejo vai se
caracterizar pela forma como o analista vai conduzir essa transferência, Freud relata em
seu texto que o analista precisa ter esse manejo. A própria escuta do analista e as suas
pontuações, também são uma forma de manejar a transferência (FREUD,1912).
O manejo é o lugar onde o analisando vai colocar o analista, este precisa
perceber em que posição ele se encontra, que tipo de investimento o analisando está
fazendo nele. Uma das forma de conduzir o processo analítico é a interpretação que o
analisando faz na associação livre, ela também é trabalhada pelo analista. O manejo é
multifacetado, é no discurso e na conduta do paciente que o analista precisa ficar atento.
Porque em determinado momento a transferência positiva ou negativa pode se
presentificar (MAURANO, 2006).
Desta forma, Freud (1915) faz um alerta, o analista precisa estar ciente que o
enamoramento da paciente é forçado pela situação analítica. Portanto, não deve se
orgulhar dessa conquista. Dependendo do manejo dessa transferência a paciente pode ou
não desistir do tratamento, é possível também acontecer uma situação mais improvável
que é o movimento desse analista com a paciente que vai impedir totalmente o processo
analítico. Na realidade, esse envolvimento não é chamado de transferência e sim de
contra transferência, que possivelmente esteja latente no analista.
Por isso Freud, em vários de seus artigos, destaca a importância da transferência
e de seu manejo no processo analítico. Em 1914, no artigo Recordar, Repetir e Elaborar
o autor descreve que o objetivo da análise é superar as resistências devido à repressão. E
Expõe que existem casos em que o paciente não consegue recordar o material
reprimido, mas ao invés disso, expressa o reprimido a partir da atuação. Esta repetição
seria a sua maneira de recordar. Repete, na vida atual e na relação com o analista os
seus sintomas, suas inibições e seus traços patológicos de caráter (FREUD, 1914).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embasada nessas considerações, o principal objetivo neste trabalho foi examinar
a transferência na obra freudiana. Assim, podemos proferir que a responsabilidade de
conduzir a transferência é do analista, seja ela positiva, negativa ou erótica. Em análise
o paciente faz um trajeto até chegar a sua história de vida real, muitas vezes essa
trajetória é inconsciente.
A partir da forma como o analista vai manejar, a neurose de transferência o
analisando vai elaborar e ressignificar a sua história. O papel do analista é trabalhar para
dissolver essa neurose de transferência e depois trabalhar a neurose original, colocando
o analisando diante do sintoma gerando angústia diante do real. Diante disto, o paciente
pode ser trabalhado pelo analista (FREUD,1912).
O analista precisa estar atento a essa oscilação da movimentação transferencial
durante o percurso da análise. Uma elaboração transferencial estabelecida no processo
preliminar das entrevistas, não significa que está tudo bem, não, o analisando pode sim
constituir uma boa relação transferencial, mas como a análise se dá por movimentações
psíquicas, pode ocorrer que numa determinada sessão o analisando traga alguma
questão para ser abordada, a imposição e a implicação que o analista possa fazer diante
disso que está sendo discutido pode haver um rompimento no tratamento (FREUD,
1913).
Pode ocorrer que no momento de análise, um desencadear de uma ocupação da
transferência negativa em relação ao analista se presentifique, a forma como ele se
colocou, pontuou, fez o paciente olhar para esse analista convocando elementos
reminiscentes das memórias mnêmicas em relação ao que ele vivenciou com o pai, com
a mãe, ou com alguma situação que para ele ainda não está bem esclarecida, mas são
esses afetos que se manifestam, isso faz com que o analisando tenha que se defender. É
importante o analista entender o que acontece nesse momento (FREUD,1912).
Conforme o trabalho de transferência vai acontecendo, as duas neuroses vão se
equilibrando. Desta forma, o paciente deixa de projetar no analista aquelas pessoas da
convivência do passado e consegue ficar diante do sintoma original. Esse momento da
sessão só é facilitado por conta do manejo da transferência.

Portanto, é necessário que o analisando compreenda que na sessão de análise
aquele horário, aquele momento o espaço de fala é totalmente dele. Essa compreensão
traz segurança e confiabilidade da parte do paciente para com o analista.
Entretanto, a transferência tem essa tensão, de hora está positiva e poder
acontecer e outra hora está negativa por conta de uma tentativa de defesa do sujeito,
afim de evitar o sofrimento. Cabe ao analista saber se colocar na posição de receptor e
proporcionar a esse sujeito o lugar de fala.

Referência Bibliográfica

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uma histeria (“Caso Dora”) e outros textos (1901-1905). Tradução: Paulo César de
Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2016. [1856-1939].
MAURANO, D. A transferência: Uma viagem rumo ao continente negro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1998.

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