GABRIELLE RODRIGUES
RIO DE JANEIRO
2023
Para falar do Complexo de Édipo e Sexualidades (não nessa ordem), antes, preciso
comentar minha admiração pela genialidade e brilhantismo da mente de Freud, tentando
discorrer sobre o caminho literário que ele trilhou, em quais fontes foi bebendo durante o
trajeto até chegar em suas teorias fundantes da Psicanálise.
Freud e as fontes do Saber
Fontes como Filosofia, Medicina, Poesia, Dramaturgia e a Mitologia
Desde a adolescência, Freud esteve intimamente envolvido com a literatura Clássica e
Grega. Entre os principais autores lidos estão: Horácio (poeta e filósofo), Goethe (poeta,
filósofo e dramaturgo alemão), Shakespeare (poeta e dramaturgo inglês), Heine (poeta
alemão), Sófocles (dramaturgo grego), Schiller (poeta, filósofo, médico e historiador alemão),
Hipócrates (médico e filósofo grego), Schopenhauer (filósofo alemão) dentre outros grandes
nomes como Cervante, Leibniz, Wolff, Kant, Hegel, filósofos que promoviam, inclusive,
debates intelectuais sobre o inconsciente, a partir da Alemanha, na segunda metade do século
XIX.
Diante do rol de grandes nomes, considero importante destacar algumas fontes e
correlacioná-las, respectivamente, falando um pouco sobre a importância de cada um na vida
do “Pai da Psicanálise”.
Na Filosofia (é amor à sabedoria) os filósofos desenvolvem o entendimento baseados
na razão e na lógica, destaco o filósofo alemão do século XIX, Schopenhauer, cuja teoria
filosófica dualista da vida inspirou diretamente Freud na elaboração de suas Teorias de Pulsão
de Vida, Pulsão de Morte, Eros e Thanatos. Para Schopenhauer a vida oscila do sofrimento ao
tédio e a felicidade é momentânea. A dor e o tédio são inerentes ao ser humano e a felicidade
é uma interrupção momentânea dessa jornada dorida. Percebe-se o que inspirou a célebre
frase de Freud, quando afirmou em Mal-estar na Civilização, que a felicidade era episódica.
“O que em sentido estrito se chama felicidade corresponde à satisfação mais repentina
de necessidades retidas com alto grau de êxtase e, por sua própria natureza, somente é
possível como um fenômeno episódico”.
A Medicina não poderia ficar sem destaque face à sua influência direta na vida de
Freud, tanto literária-filosófica quanto acadêmica, pois formou-se médico. O filósofo grego
não poderia ser outro, senão Hipócrates, também médico, aliás, considerado o “pai da
Medicina”. Havia uma crença que descendia de deuses. Foi Hipócrates quem diferenciou
doenças de sintomas, que deveria observar atentamente os doentes e seus sintomas. Antes
dele a Medicina ficava nas mãos dos sacerdotes do deus grego Esculápio (deus da cura), o que
fazia a doença ser vista como punição aos homens.
Ele que cunhou pela primeira vez a HISTERIA (base na origem da Psicanálise –
estudo das histéricas) como doença orgânica e UTERINA, logo, do sexo feminino e que
afetava o corpo todo. Defendia que resultava da falta de relações sexuais, o que “secava” o
útero que, em busca de umidade, se deslocaria pelo corpo da mulher. Vale dizer que o tema
sexualidade permeia toda a teoria freudiana.
A Histeria seria campo fértil de estudo para Freud, como aluno do professo e médico
neurologista francês, Jean M. Charcot, que renomeou a Histeria como Neurose: neurose
histérica. Era uma doença neurológica, que não se detectava nos exames anatomopatológicos,
doença funcional, hereditária que afetava tanto mulheres quanto homens. Charcot usava a
hipnose e fabricava sintomas para suprimi-los, manobra que desagradava a Freud.
A Mitologia é forma de semidizer a verdade por meio de um sistema de crenças
contadas por histórias que explicam tudo o que existe e é importante para a sociedade. Os
mitos se referem à relação do homem com os enigmas de sua existência, quais sejam,
questões sobre a vida, a morte, nascimento, sexo, a existência dos elementos da natureza e
comportamento humano, bem como tudo o que não era compreendido. Exemplos de mitos:
heróis, deuses, semideuses, ninfas, sereias, centauros etc. Para suas Teorias e Conceitos, Freud
se vale de mitos, como Édipo e Narciso, nomes de deuses como Eros e Thanatos, assim, a
Mitologia permeia a Obra freudiana.
Mito Édipo, filho de Jocasta e Laio, reis de Tebas, ordenam matar o próprio filho, por
temerem a profecia do oráculo, prevendo que o filho mataria o pai e se casaria com a mãe.
Todavia, o assassinato do garoto não ocorre e ele é adotado pelos reis de Corinto, Políbio e
esposa. Certa feita, Édipo descobre a adoção, busca o oráculo que repete a profecia.
Desnorteado com a revelação, ele sai da cidade e mata um grupo de homens que encontra no
caminho, dentre eles estava seu pai biológico. Chega à Tebas onde resolve o enigma da
Esfinge e livra a cidade. Como herói, recebe sua mãe como esposa, com quem tem dois filhos
e duas filhas, consumando a profecia. Em dado momento, descobre sua história e seu destino
é revelado, levando-o a arrancar os olhos e a sua mãe a suicidar-se.
Mito Narciso, filho de Cefiso, deus do rio, e da ninfa Liriope, nasce sob a profecia do oráculo
de que teria uma vida longa e feliz desde que jamais olhasse a própria imagem. Ele cresce o
mais belo de todos os rapazes, despertando paixões e inveja. Uma ninfa de nome Eco se
apaixona perdidamente, porém é desprezada pelo jovem vaidoso. Tomada de ira, ela pede à
deusa Nêmesis que o castigue e, assim, o condene a se apaixonar pelo próprio reflexo.
Narciso se viu no “espelho” da lagoa, se apaixonou pela sua imagem e morreu afogado ao
tentar beijar a imagem na água.
Comento, por último, a Dramaturgia, fonte de onde Sigmund, impressionado, se
valeu de uma peça e elaborou uma das principais Teorias de sua Obra. Comentando Édipo
Rei, a tragédia teatral de Sófocles, dramaturgo grego, Freud afirmou: “a lenda grega capta
uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um pressente sua existência em si mesmo.
Cada pessoa da plateia foi, um dia, um Édipo em potencial ou na fantasia, e cada pessoa
recua, horrorizada, diante da realização do sonho ali transplantado para a realidade, com toda
carga de recalcamento que separa seu estado infantil do estado atual.
Notadamente, Freud foi um menino sedento de conhecimento, que cresceu imerso no
consumo da mais variada literatura e investiu sua juventude na formação acadêmica
(ingressou na universidade com 17 anos), formando-se médico neurologista, depois
psiquiatra, não limitando-se apenas à prática clínica o que não lhe rendia muito
financeiramente, nem prestígio entre seus pares, ambicionava mais. E assim foi, de
pesquisador científico, a assistente, conferencista, até conseguir uma bolsa de viagem e
licença do Hospital Geral de Viena para estudar no hospital psiquiátrico de Paris, Saltpêtrière.
Foi aluno do médico e professor Dr. Jean-M. Charcot, que estudava histeria e curava as
paralisias histéricas através da hipnose, inicialmente, impressionou a Sigmund.
Tentando revisitar os passos de Freud na sua caminhada intelectual, posso dizer que
seu brilhantismo e genialidade foram estruturados por grandes autores, textos riquíssimos e
sobretudo pelo seu interesse científico e ambição.
Complexo de Édipo e Sexualidade(s)
Para chegar no Complexo de Édipo, antes tenho que falar de Sexualidade, porque é a
partir do tema sexo, ou falta dele, do útero e o que está relacionado a ele, que se estuda a
Histeria nos dias de Freud. E será necessário dar um salto na linha do tempo do Sigmund
adolescente, afeito à Literatura e avançar para o jovem médico neurologista, aluno por seis
meses do professor, Dr. Charcot, neurologista, psiquiatra, pesquisador da Histeria, no Hospital
Saltpêtrière. Imerso no “universo” das histéricas, estudando, observando e se aperfeiçoando
foi que a mente inventiva de Freud não parou mais de fervilhar a partir da divergência que
teórica em que para Charcot a histeria tinha origem orgânica, biológica e para Freud era não
orgânica, mas psicológica, face às suas observações, já que os sintomas não correspondiam à
anatomia.
De volta ao Hospital Geral de Viena, Freud, usufruindo de todo aprendizado em
Saltpêtrière, passa a atender muitos casos de jovens senhoras que sofriam de um conjunto de
sintomas aparentemente neurológicos, não diagnosticados por exames. E observando seus
muitos casos clínicos e discutindo com seu amigo, Josef Breuer, médico fisiologista, o famoso
caso Anna O. Freud passa a dar mais importância à sexualidade para entender tanto a Neurose
quanto o indivíduo Normal, uma vez que concluiu que a excitação emocional (trauma) por
trás dos sintomas neuróticos era de natureza sexual. Ao mesmo tempo em que analisava suas
pacientes, Sigmund analisava a si mesmo e seus próprios sonhos, escrevia seus textos,
elaborava seus ensaios e teorias sobre o inconsciente, interpretação de sonhos, sexualidade
infantil e outras.
Com tudo o que já tinha “em mãos” Freud elabora a sua primeira teoria: a Teoria da
Sedução (Neurótica), o trauma tem origem sexual, destacando que a histeria era fruto de
ABUSO SEXUAL, realmente vivido na infância (sedução real; 1º sedutor: mãe com
cuidados). O abuso é acompanhado de repugnância e medo. O choque é pré-sexual (anterior à
existência da sexualidade) pois criança não tem sexualidade, portanto teria sido seduzida por
um adulto perverso. Na carta de 06/12/1896, Freud escreve ao amigo “Parece-me cada vez
mais que o aspecto essencial da histeria é que ela decorre de perversão por parte do sedutor. E
parece cada vez mais que a hereditariedade é a sedução pelo pai”.
Em 28/04/1897, Freud conta que atendeu uma moça que tentou esconder nome, mas
acabou revelando, face as perguntas do médico, que seu pai, homem supostamente nobre e
respeitável, a levava para a cama regularmente e se servia dela sem penetrá-la, quando tinha
entre 8-12 anos. Em outra, Freud mostra ao amigo o profundo incômodo de sua teoria
alcançar seu próprio pai, homem íntegro. Ora, se o pai de Freud não foi um perverso sedutor,
se houve pai que não teve relação sexual, todo pai seria perverso? Todo trauma de origem
sexual seria real? Freud entende ser impossível generalizar todos os pais e enquadrá-los no
campo da perversão sexual, abandonando a sua primeira teoria.
Nasce a segunda teoria: a Teoria da Fantasia (Fachada Psíquica). Essa teoria
substitui a teoria do trauma, pois Freud entende que há uma “produção do Inconsciente”.
Fantasias são estruturas ou ficções “protetoras” ou “embelezadoras” dos fatos e servem de
alívio pessoal. Freud explica ainda, em carta de 02/05/1897, que as fantasias substituem a
parte faltante da recordação. Elas provêm de coisas ouvidas e cenas (visuais e auditivas)
vividas e só depois entendidas. “A conexão original não se pode rastrear”. Numa miscelânea
inseparável, não distinguindo o que é real da fantasia, os sujeitos interpretam, inscrevem o
trauma. O Inconsciente cria um roteiro.
Em 21/09/1897, Freud anuncia “Eu não acredito mais em minha Neurótica!”. Os
motivos eram vários como: evasão de pacientes pela insistência em chegar às cenas infantis,
não conseguir distinguir no Inconsciente a verdade da ficção afetivamente investida, a
impossibilidade de incluir todos os pais no campo da perversão. É, inclusive, nessa carta que
Freud vai escrever que só lhe “restaria a solução de que a Fantasia Sexual se prenderia
invariavelmente ao tema dos pais”. O que significaria dizer que, segundo ele, todos nós fomos
“um dia, um Édipo em potencial na fantasia”. E que por essa razão a encenação da tragédia de
Sófocles, com seu herói incestuoso e parricida mexe com todo o público.
Em constante autoanálise, após a morte de seu pai, Freud revisa sua vida e, numa carta
a Fliess, em 15/10/1897, escreve ao amigo: “Não é nada fácil. Ser totalmente franco consigo
mesmo é um bom exercício. Uma única ideia de valor geral despontou em mim. Descobri
também em meu próprio caso, o fenômeno de me apaixonar por mamãe e ter ciúmes de papai
e agora considero-o um acontecimento universal do início da infância.”
Na mesma carta, Freud faz menção à tragédia de Édipo Rei, afirmando que a tragédia
causa horror na plateia, porque, no fundo, todos se reconhecem no personagem principal, na
possibilidade de um sonho realizado ou contido. A carga de recalcamento separa o estado
infantil da pessoa do seu estado atual. E que “sonho infantil “seria esse? O do filho que deseja
ter sexualmente a mãe para ele, assumir o lugar do pai com o qual rivaliza, tal qual Édipo
(inconscientemente). Por isso, a Obra de Freud é embasada e costurada pelas Sexualidades.
Sexualidade(S)
Sexualidade ou Genitalidade?
Freud “herdou” de Hipócrates, Charcot, Breuer e outros mestres opiniões idênticas
sobre a causação da histeria ser sexual, para eles a falta de coito normal (sexo genital) era a
origem da Neurose. Na clínica, Freud também observava comportamentos sexuais,
masturbação e a si mesmo. Sim, ele se inclui como caso clínico. Estava convencido de que as
neuroses eram doenças específicas da função sexual, mas não apenas isso, que eram
adquiridas na tenra infância (até 6 anos) mesmo que os sintomas só viessem a aparecer
depois.
Todavia, na visão de Freud, o conceito de sexualidade era muito mais amplo do que o
de genitalidade. Na ideia comum, sexualidade corresponderia ao ato sexual, mas a isso ele
nomeou de genital. Para ele a sexualidade não se limita ao corpo biológico, é, também, fruto
de experiências psíquicas inconscientes. A sexualidade engloba várias sensações (corpo) e
sentimentos (psiquê). Entende que as modalidades de sexualidades estão ligadas às zonas
erógenas, sendo elas, pele e mucosas (furos) que estimulados geram a sensação de prazer.
Quais sejam: 1º oral (energia libidinal na boca), 2º anal (energia focada no ânus), 3º fálico
(libido voltado para os genitais), 4º latência (“amnésia” pouco ou nenhum libido) e 5º genital
(energia libidinal concentrada no pênis e clitóris). Cada modalidade se desenvolve numa fase
etária infantil e são chamadas de fases psicossexuais.
Na sexualidade ele cita as primeiras atividades do bebê, como por exemplo, com o
mamilo da mãe que era mais do que fonte de alimento, a mãe é o primeiro objeto erótico do
bebê. O amor origina-se da necessidade de nutrição, pois para o bebê não há ainda distinção
do corpo da mãe e de seu corpo, eles são um só (autoerotismo – prazer no próprio corpo).
Somente após perceber a ausência do seio materno que sumia e depois voltava para satisfazer
sua fome, entre outros cuidados, o bebê experimenta outras sensações físicas agradáveis e
desagradáveis (amor objetal – prazer em outros objetos). Desse modo, observa-se que desde o
nascimento, ou até mesmo antes dele (com o chupar de dedos ainda no ventre da mãe) o bebê
busca e promove prazer no próprio corpo e isso se traduz em sexualidade.
Por ser a mãe a primeira relação de amor, ela influenciará todas as relações
posteriores ao longo da vida do indivíduo.
Bissexualidade e Narcisismo
Freud defende a tese de que a bissexualidade é inerente ao ser-humano e é orientada
pela noção de que todos nascem com disposições sexuais masculinas e femininas, mas é
através do desenvolvimento psicológico que a maioria se torna monossexual, ele entende que
a bissexualidade é psíquica e que nem os dados biológicos e nem a predisposição anatômica
são suficientes sozinhos. “As disposições sexuais masculinas e femininas […] encontram-se
nos conflitos psíquicos que o sujeito sabe assumir seu sexo” e esses conflitos se diluem no
final da fase do Complexo de Édipo, quando a criança, numa dissolução normal, ultrapassa a
rivalidade com o pai, supera o medo da castração e passa a admirá-lo e identificar-se com ele.
A atração por ambos os sexos é possível, mas uma é mais comum para cada sexo.
Freud explica a Inversão da atração homossexual como resultante de um ou mais episódios
traumáticos que impediram o desenvolvimento normal de uma atração pelo sexo oposto.
Sigmund caracteriza os humanos como naturalmente polimorficamente perversos, ou seja,
eleger qualquer objeto como fonte de realização erótica (prazer/amor).
Narcisismo: é uma fase, um momento mítico, posterior ao autoerotismo e que
precederia o investimento do objeto como diferente do sujeito. (fase intermediária entre
autoerotismo e amor objetal). A relevância de trazer aqui o conceito de Narcisismo junto ao
tema da bissexualidade é porque ele se desenvolve numa fase da infância que passa pelo amor
a si mesmo e do próprio corpo para a escolha de outra ser (mãe) como objeto erótico. O
Narcisismo é um processo de desenvolvimento pessoal importantíssimo, o momento da
estruturação do EU, unindo pulsões parciais e autoeróticas. O que as une é o investimento
libidinal da imagem do sujeito como objeto privilegiado. Ou seja, o bebê se percebe um,
separado da mãe e do seu entorno.
Complexo de Édipo
Afinal, o que é o Complexo de Édipo? É uma fase do desenvolvimento psicossexual
da criança do sexo masculino, que se caracteriza quando ela começa a sentir uma forte atração
por sua mãe (figura materna), um desejo incestuoso e rivaliza com o pai (figura paterna) que
irá aplicar a proibição, figurar com “lei, interdito”, irá frustrar, castrar esse desejo do menino.
Frustrado, o menino perde o interesse pela mãe e volta a sua atenção e amor para o pai,
passando a admirá-lo e a identificar-se com ele. A partir do Édipo o sujeito irá estruturar e
organizar o seu “vir a ser” (Ego), em torno da diferenciação entre os sexos e como se
posiciona frente à castração. (sentimento inconsciente de ameaça à perda do pênis –
Complexo de Castração). Quando ocorre com as meninas, Freud nomeia de Complexo de
Édipo Invertido (Complexo de Eléctra – por Carl Jung)
Freud, através de sua teoria edipiana, estabelece um dos principais fundamentos da
Psicanálise. Com ela é possível explicar as relações familiares desde o nascimento, jogando
luz sobre o desejo humano e suas proibições necessárias. Como se forma a identidade sexual
dos sujeitos, como se tornam neuróticos. A criança de 3-5 anos (fantasia incestuosa) é
atormentada entre o desejo de ser seduzida e o medo de sê-lo, entre o medo de sentir prazer e
o medo de experimentá-lo, e carrega esse sofrimento psíquico que é levado pelo adulto.
Fantasias sexuais, medo de castração, a latência na infância que leva a esquecer conflitos
emocionais que foram gerados. É fácil compreender a importância e o alcance do Complexo
de Édipo, ele é o cerne da Neurose.
É também conhecido como ponto de partida da identidade sexual de todo homem ou
mulher, que se dará pelo processo de identificação e escolha do objeto de amor nas relações
futuras da vida adulta. A dinâmica hostil onde o menino desenvolve a rivalidade em relação
ao pai (ou quem roube o amor da mãe) mas que também quer ser tal e qual ele, a fim de
conseguir o verdadeiro e completo amor da mãe, o menino que assumir o lugar dele, num
verdadeiro processo de identificação é o que vai delineando a tendência sexual bissexual ou
monossexual.
A exemplo, se um menino tem forte componente feminino da sua bissexualidade ele
tende a uma atitude passiva com o pai, tal qual a figura da mãe, identificando-se com ela e
reproduzindo a conduta da mãe, como ela escolherá um parceiro. Já a menina, por ter inveja
do pênis, por sentir-se inferior, pode seguir um caminho de desinteresse pela sexualidade. Ou
há as que persistem no desejo de se transformarem em meninos (eu quero um pênis), estas
poderão apresentar traços fortes de afirmação de personalidade e se tornarem homossexuais.
Isso é resultante de determinados níveis de conflito.
Para explicar a escolha sexual dos invertidos, como eram chamados os homossexuais
à época de Freud, ele se valeu do desdobramento do seu conceito inicial sobre Narcisismo
(que passa a ser Primário, 1910) a fase de estruturação do EU, que é a ideia de que o sujeito
pode tomar seu próprio corpo como objeto de amor, logo como a criança é plena nessa fase,
ela e sua mãe formam um único corpo, todo investimento libidinal volta para o EU.
Entretanto, essa fase começa a se encerrar quando o bebê começa a perceber que seus desejos
nem sempre são sanados e dependem de outra coisa/pessoa para que sejam atendidos. Sendo
assim, passa a querer objetos externos que o satisfaçam.
Ainda em 1910, Freud introduz o termo Narcisismo Secundário em que a busca de
satisfação em objetos concretos (ou não) e que são motivados pela pulsão (energia
inconsciente). O desejo nunca é sanado completamente e sempre se associa a uma falta.
Freud relaciona a homossexualidade a um tipo de escolha de objeto narcísico, ao mesmo
tempo do retorno da libido ao autoerotismo.
Freud discorre, ainda, em 1925, “algumas consequências psicológicas da distinção
anatômica entre os sexos”, referente à triangulação relacional edipiana entre menina, pai e
mãe. (Complexo de Édipo Invertido). Que à menina caberia um esforço emocional maior do
que ao menino, pois ela percorre um trajeto maior no percurso edipiano. Ela precisa amar a
mãe, sair desse amor, decepcionada porque não ganhou um pênis, volta-se amorosamente para
o pai até ser castrada pela mãe.
Essa passagem do seu amor pela mãe, depois para o pai, permitirá realizar futuramente
sua preferência por um “representante” do pai, um outro homem a quem ela irá se ligar
afetivamente.
Qual importância do Complexo de Édipo?
O Complexo de Édipo é importante porque “mapeia” a vida de cada indivíduo.
Através dele é possível compreender o comportamento de adultos e adolescentes, o porquê
agem da forma que agem. Analisando o que foi vivido no período da sua infância, na relação
familiar com mãe e pai, na identificação com a figura de seus pais afirmando sua
masculinidade (meninos ou não) ou sua feminilidade (meninas ou não) e a referência do que
buscarão num relacionamento futuro. Bem como entender a capacidade do sujeito lidar com
suas frustrações, limitações a partir do interdito, da castração perpetrada pelo pai na fase
edipiana.
Há consequências com a saída da fase do complexo edipiano, a Dissolução do
Complexo de Édipo:
Dele, se constitui o Superego, a instancia psíquica do sujeito “o superego é o herdeiro
do complexo de Édipo”. Ou seja, a criança sente-se ameaçada de castração e/ou perda do
amor dos pais se persistir em seus desejos incestuosos. Por isso, renuncia a esses desejos, mas
como consequência da identificação e como uma advertência para toda a vida, as figuras
parentais são introjetadas e incorporadas na mente infantil, formando o superego.
Se a passagem pelo período edipiano ocorrer dentro da triangulação e roteiro teórico
previsto pelo pai da psicanálise, as consequências na vida adulta são as mais variadas.
Teremos as neuroses e seus desdobramentos em maior ou menor intensidade, como alguns
exemplos: bem resolvido: descoberta do objeto de amor a partir da resolução de sentimentos
em relação aos pais, aceitação da “Lei de proibição do incesto”, acesso a genitália e suas
características, identificação para o ideal de Eu, aceitação do sexo; mal resolvido: teremos
homens impotentes, frios, tímidos, com sentimento de inferioridade, com necessidade de
validação, sentimento de culpa sem motivo, agressividade em excesso ou passividade,
distúrbios de personalidade como narcisismo entre outros.
Afinal, segundo Freud, “neuróticos somos todos nós: pessoas que têm conflitos
internos e lidam com eles por meio de repressões mentais”.
Referência Bibliográfica
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Rei Édipo – Sófocles;
Édipo – O complexo do qual nenhuma criança escapa, J.-D.Nasio;
Édipo – Psicanálise passo a passo, Teresinha Costa;
Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. J,
-D. Nasio (p.39).
Aulas Ibrapchs