UMA BREVE COMPREENSÃO SOBRE A HISTERIA

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Fabrício Figueiredo Das Garças Cunha (RJ/2021)

O presente trabalho consiste em explicar de forma simples, clara e objetiva o conceito geral sobre a histeria. seu processo histórico, sua associação com o efemino e como a histeria passou se vista com um olhar especulativo da medicina do século XIX. Olhar esse que influenciou o pai da psicanálise a formular suas teorias sobre sexualidade, repressão e inconsciente.

É comum nos meios sociais a ideia de que a histeria esteja associada à figura feminina, em filmes, teatros e telenovelas, é comum a figuras de personagens femininos que agem de forma dramática, representando de forma caricata a mulher histérica. No cotidiano se consolidou essa aldeia de que a histeria é uma doença feminina, frutos de fragilidades ou até mesmo fingimentos para chamar a atenção. Esses pensamentos são errôneos e já caíram em desuso por muitos anos, pois não estão embasados em nenhum pensamento científico do século XXI. Freud, através do caso August consegue provar que os homens também podem sofrer de histeria, libertando a mulher de carregar sozinha o peso desse sintoma. Sabe-se muito sobre os sintomas histéricos devido aos inúmeros estudos, anotações e terapias a fim de tratá-la, incluindo os métodos do doutor Freud. Porém, devemos lembrar que a histeria vem de um longo processo histórico e social. Antes de ser um problema da medicina moderna, ela já existia há milhares de anos atrás. Os conhecimentos de sua origem remontam à antiguidade. Pouco se sabe ao certo em que lugar ela teve origem, porém alguns documentos históricos relatam que ela já era conhecida no antigo Egito e na Grécia antiga. Médicos gregos a chamavam de doença do útero, segundo os antigos, esta doença estava ligada à matriz geradora da mulher. O útero que estava doente percorria todo corpo, gerando infertilidades e sensações de mal-estar

Hipócrates, médico renomado da Grécia Antiga (460-377
a.C) entendia a histeria como sendo uma doença orgânica
de origem uterina e, portanto, especificamente feminina que
afetava todo o corpo por sufocações da matriz.

(Belintani 2003.p.02)

Durante o período que ficou conhecido como idade média, a medicina antiga deu lugar aos pensamentos religiosos consolidados nas crenças, no sobrenatural e rígidos costumes morais. Nessa época, qualquer pessoa que sofresse de enfermidades físicas ou mentais era malvista pela sociedade, perseguida pela igreja que acreditava que elas estavam possuídas pelo demônio. Muitas pessoas foram perseguidas e mortas nas fogueiras da inquisição. A maioria dessas pessoas era de mulheres vistas como suspeitas de bruxaria ou comportamentos que não eram aceitos pela igreja. Foi um período negro para as mulheres que eram consideradas histéricas. Ou seja, a histeria era tratada como algo ruim, associada a paixões descontroladas das mulheres. No entanto, as coisas começaram a mudar ao alvorecer do século XVIII, as crenças e superstições cada vez mais foram sendo substituídas por novos paradigmas e conhecimentos pautados no pensamento racional. Neste momento, a histeria deixa de ser tratada como algo puramente demoníaco e passa a ser observada com um olhar terapêutico, embora ainda seja tratada como algo ligado à degeneração moral da mulher. Foi o doutor Franz Anton Mesmer que deu grandes contribuições para o estudo da histeria através do seu tratamento terapêutico que ficou conhecido como mesmerismo, segundo ele tanto a histeria como outras doenças não eram produtos de um processo demoníaco ou calores por falta de sexo, mas sim doenças dos nervos como ele costumava chamar. Mesmer acreditava em uma força magnetizadora, força essa que ele chamava de energia animal, segundo ele a histeria era um sintoma causado desequilíbrio energético, para curá-los ele provocava crises aos seus pacientes por meio de uma espécie de transe a fim de que suas energias pudessem voltar ao normal. É importante salientar mais uma vez que neste contexto a ideia de histeria não era encarada como uma patologia psíquica e sim como sintomas de origem pouco conhecida. Embora as ideias de Mesmer fossem tratadas com desconfiança por parte de outros cientistas, ele conseguiu tratar os sintomas histéricos como também deu o pontapé inicial para que a histeria fosse reconhecida como algo tratável.

Mesmer sustentou que as doenças nervosas tinham como
origem um desequilíbrio na distribuição de um fluido universal.
Assim bastava que o medico , transformado em magnetizador,
proferisse freses nos pacientes , em geral mulheres. para curá-
los mediante ao estabelecimento do equilíbrio do fluido.

(BELINTANI.2003.P.02)

Ao decorrer dos tempos o magnetismo de Mesmer foi dando lugar a novos métodos para tratamento das enfermidades, principalmente em meados do século XIX, onde o pensamento cientificista teve um enorme avanço, foi nesse período que o médico James Braid em1842, começa a tratar suas pacientes histéricas com método hipnótico, assim como Mesmer Braid faz com que suas pacientes entrem transe hipnótico para poder tratá-las. Ele estuda a histeria como uma doença cujos sintomas estão ligados a fatores biológicos. Braid não apenas tratou a histeria sobre a ótica metodológica, como também deu a ela um tratamento puramente científico. Outro cientista que teve uma grande importância para o estudo da histeria foi Jean Martin Charcot, ele também tratou e catalogou a histeria dentro dos rigores científicos e chegou à conclusão de que a histeria é um sintoma neurótico do próprio indivíduo. É neste contexto cheio de descobertas e debates no campo da medicina e do ambiente que o médico e neurologista austríaco Sigmund Freud inicia sua carreira trabalhando no laboratório de fisiologia do Hospital Geral de Viena. Embora fosse um trabalho muito prazeroso para Freud ele não conseguia adquirir condições financeiras para manter sua família sendo aconselhado então por seu amigo Ernst Wilhelm von Brücke arrumar um trabalho que pudesse lidar condições financeiras melhores, Freud então de deixa o laboratório de fisiologia por uma bolsa de estudos ingressa no Hospital da Salpêtrière na França sob a supervisão de Jean-Martin Charcot um grande neurologista da época. Na frança, Freud encontrou muitos métodos inovadores, principalmente no que tange à área da psiquiatria. Nesse período, Charcot passa a ser um instrutor para Freud, que assiste às suas aulas com grande entusiasmo. Essa experiência foi muito marcante para Freud, ali ele encontrou muitas pessoas doentes, principalmente aquelas que a medicina da época considerava doentes, que sofriam de inflamação dos nervos. Por meio de charcot Freud aprendeu ter um novo olhar sobre a histeria, principalmente a forma anatômica e fisiológica da qual Charcot tratava os sintomas histéricos, para ele a histeria tinha origem no mau funcionamento do cérebro e lesões na medula espinhal, através do transe hipnótico ele conseguia tanto provocar ou curar as crises de seus pacientes. Com isso, ele mostrou que a histeria não era uma invenção feminina, como pensavam muitos médicos da época. Freud via as ideias de Charcot como inovadoras e a hipnose como uma ferramenta eficaz para o tratamento da histeria. Assim como Charcot e Freud estudavam e tratavam os fenômenos histéricos, outros cientistas também se debruçavam a respeito. Eram muito comuns debates científicos a respeito de qual método ou estudo eram mais eficazes. Para o tratamento das doentes. Freud, como um cientista, também fez parte desse ambiente caloroso, isso fez com que ele tivesse uma visão mais ampla das questões em debate e começasse a pensar em seus próprios métodos. Quando Freud começa a tratar as próprias pacientes histéricas através da hipnose, ele percebe que os traumas sempre voltavam e as crises estavam associadas a abusos sexuais na infância, mas que nem sempre eram verídicos. Enquanto Freud ia descobrindo novos métodos para tratar suas pacientes, ele também foi se distanciando da hipnose como tratamento eficaz para histeria. Ele passou da importância do conflito de conteúdos conflituosos por trás dos ataques histéricos. Esse método, mais tarde, ficou conhecido como associação livre. Uma paciente do Doutor Bresser, amigo de Freud, teve uma grande contribuição na trajetória de Freud. Tratava-se de Bertha Pappenheim, descrita nos relatos de Freud como Anna O. Anna era uma jovem alemã da alta sociedade que sofria de perturbações psíquicas, sintomas que encaixavam no quadro de histeria de sua época. Breuer tratava seus sintomas através da hipnose, da qual não conseguia resultados significativos. Foi a própria Bertha que mostrou a Breuer que ela necessitava falar sobre seus desejos e conflitos internos. A história de Anna faz com que Freud volte ainda mais sua atenção aos conteúdos inconscientes que geravam os ataques histéricos. Através da fala da paciente e de sua escuta, Freud conseguia identificar que tipo de conflito gerava as perturbações psíquicas. Os conflitos que essas mulheres levavam para o consultório de Freud eram frutos da sociedade de que viviam numa época de forte repressão feminina, marcada por valores de moralizantes cuja sexualidade era vista apenas para procriação e qualquer coisa que iam, além disso, era visto como degeneração moral. Esse peso recaía sobre os ombros das mulheres, que na maioria das vezes reprimiam ou recalcavam seus verdadeiros desejos, gerando as chamadas crises de histeria. Ao analisarmos o processo que a histeria percorreu, chegávamos a duas conclusões: a que histeria não nasce de nenhuma degeneração ou patologias físicas femininas, ela é fruto de desejos e conflitos não expressados devido às repressões sociais de seu contexto social. Foi Freud quem teve a visão mais apurada do que realmente estava acontecendo por trás das histerias. Ele explica isso através do livro que escreveu com Breuer: Estudos sobre a Histeria. De qualquer forma, não podemos negar a ligação entre a histeria e a psicanálise, pois se a histeria forneceu as ferramentas para Freud entender o inconsciente, a psicanálise forneceu as ferramentas para trazer o que está no inconsciente para o consciente.

Referência Bibliográfica

GIOVANI, B. Histeria. Psic:revista . v.4 n.2 São Paulo dez: Vetor Editora 2003

COSTA,B; HORTEGO, R. KUPFER, M, C. Freud e sua relação com o
saber. vol.68. n.2. Rio de Janeiro : Arquivo. brasileiro. psicologia. 2016

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