Nem toda mãe é boa. A perversão feminina existe?

Souza, Ana Cristina
Rio de Janeiro/2022

Resumo

O objetivo deste artigo é abordar um assunto inquietante, polêmico e delicado: perversão feminina e o
mito do amor materno. Seriam elas as mães que retratam os contos de fadas? A mãe deve ser honrada
como nos manda um dos dez mandamentos? Nascemos com o instinto materno, dizem alguns e, por
conseguinte, é natural que sintamos amor pelos filhos, ou não? Tentaremos através da análise do filme
Álbum de Família passear pelo universo feminino das personagens, em especial a protagonista e a
relação dela com suas filhas. Seria ela uma perversa?

Aqui rodamos a figueira brava, brava figueira, brava figueira, aqui rodamos a
figueira brava

Introdução

O objetivo deste artigo é através da figura da protagonista traçar alguns
questionamentos sobre a possibilidade da perversão feminina defendida por alguns
psicanalistas como existente e, por tantos outros, como inexistente, habitar no corpo
da protagonista do filme, apontando em algumas cenas, características dessa estrutura
clínica. No set analítico a figura da mãe sempre aparece muito forte e sequelas
gravíssimas são notadas em seus filhos e filhas, em decorrência desse amor ser ou não
natural e espontâneo.

Para tanto, fomos buscar em “Um Amor Conquistado O Mito do Amor
Materno”, de Elisabeth Badinter, entender o mito materno desde a sua origem e suas
transformações.

Ao se percorrer a história das atitudes maternas, nasce a convicção de que o
instinto materno é um mito. Não encontramos nenhuma conduta universal e
necessária da mãe. Ao contrário, constatamos a extrema variabilidade de seus
sentimentos, segundo sua cultura, ambições ou frustrações. Como, então, não
chegar à conclusão, mesmo que ela pareça cruel, de que o amor materno é apenas
um sentimento e, como tal, essencialmente contingente? Esse sentimento pode
existir ou não existir; ser e desaparecer. Mostrar-se forte ou frágil. Preferir um
filho ou entregar-se a todos. Tudo depende da mãe, de sua história e da História.
Não, não há uma lei universal nessa matéria, que escapa ao determinismo natural.
O amor materno não é inerente às mulheres. É adicional

(BADINTER, Elisabeth.
Um Amor Conquistado. O Mito do Amor Materno, p. XX)

O conceito de maternidade, em um imaginário geral, traz consigo a
ideia da felicidade, de que esse é um instinto inerente ao feminino …. gravidez. A
autora confirma esse imaginário a partir da seguinte passagem:

Como saber se o desejo legítimo da maternidade não é um desejo em parte
alienado, uma resposta às coerções sociais (penalização do celibato e da não
maternidade, reconhecimento social da mulher enquanto mãe)? Como ter certeza
de que esse desejo de maternidade não é uma compensação de frustrações
diversas?

(BADINTER, XXXX, p. XX)

Essa tal felicidade que deverá ser gerada junto com o bebê trazendo
plenitude para essas mulheres e, ao mesmo tempo, angústia, também nos leva a
pensar que nem todas as mães são boas e, em algumas passagens do filme, notaremos
traços nessa mãe que são característicos da estrutura perversa, para contrapor a ideia
de que na sociedade só existam perversos masculinos.

Perversão feminina existe?

Assim como a neurose e a psicose, a perversão é uma modalidade de
resposta ao confronto com a diferença sexual e com a falta do Outro, trata-se de um
modo de estabelecimento de laço com o Outro, mas que defenderemos aqui ser
também traços do feminino e, que há figuras femininas – em especial mães – que têm
a estrutura perversa, mas que são tratadas na literatura como psicóticas.

A perversão é descrita como uma defesa contra a psicose, a
fragmentação do eu, é afirmada como o negativo da neurose, a recusa de reconhecer a
falta do outro, representada pelo corpo da mãe em que faltaria um elemento, o falo.

Igualmente, mães com tendências perversas fazem uso de seus filhos como
objetos parciais para manipular, cuidar, abusar, idealizar, destroçar e deserdar,
através de uma identificação simbólica que despoja o bebê de toda vida. Elas
identificam-no com o falo que elas não possuem, como seu o filho fosse seu
brinquedo.

(MILAGRE, Paula Kerm, 2015, p. 89)

No caso em específico, o falo seriam as filhas de Violet. Por isso, apostamos ser ela uma perversa e existir a perversão feminina.

Analisando o filme na perspectiva psicanalítica

Abordaremos o filme “Álbum de Família”, que originalmente se
chama “August: Osage County”, de 2013, um drama/comédia, que, em tradução livre,
significa Um Agosto Quente. O filme é uma adaptação da peça de Tracy Letts,
ganhadora dos prêmios Pullitzer e do Tony, dirigido por John Wells e com um elenco
de grandes nomes, foi agraciado com dois Oscars, um para Meryl Streep como atriz
principal e outro para Julia Roberts como atriz coadjuvante.

Nas suas narrativas amorosas, as três filhas vivem dificuldades com
seus parceiros, pois esses adultos que foram criados por esse tipo de mães sofrem no
ponto de vista moral e psíquico, possuindo marcas dolorosas que se manifestam na
alma e no corpo, têm dificuldades de expressar seus sentimentos ou tomar decisões na
vida. Consequentemente, têm problemas para dizer não aos relacionamentos abusivos
e vivem amedrontadas, presas nesse looping de busca de afeto e desejo de serem
amadas.

O núcleo familiar é formado pelos pais Beverly e Violet, que vivem
em Oklahoma, tem três filhas adultas: Barbara, Ivy e Karen. Barbs está casada com

um escritor e tem uma filha adolescente, vive uma crise no casamento pela traição do
marido com moças mais jovens, residem em Colorado, amargurada e infeliz, insiste
em manter-se casada apesar das traições. Ivy que mora também em Oklahoma e, após
um diagnóstico de câncer que a impossibilitou de gerar filhos, inicia um romance
escondido com seu primo Little Charles, filho da tia May Fat, irmã de Violet, e o tio
Charles, porém mais tarde será revelado tratar-se do filho de Beverly com a cunhada.
Karen, que vive na Flórida, traz seu noivo problemático e pedófilo para o funeral do
pai.

Karen, em determinado momento, segue com seu noivo, mesmo após
ele investir num ataque sexual à sua sobrinha. Barbara não consegue expressar o amor
que sente e o desejo de manter o casamento e, também, não consegue sair dele. Ivy se
acomoda numa relação insossa com seu primo.

Uma família basicamente feminina, que é novamente reunida após o
desaparecimento e morte do patriarca. A mãe, tem câncer de boca, manipuladora,
racista, cruel, usa uma peruca para esconder seus raros cabelos brancos e grandes
óculos escuros, fuma muito e faz uso de antidepressivos, dona de uma agressividade
constante.

Agressividade é tendência ou conjunto de tendências que se atualizam em
comportamentos reais ou fantasísticos que visam prejudicar o outro, destruí-lo,
constrangê-lo, humilhá-lo, etc. A agressão conhece outras modalidades além da
ação motora violenta e destruidora; não existe comportamento, quer negativo
(recusa de auxílio, por exemplo) quer positivo, simbólico (ironia, por exemplo) ou
efetivamente concretizado, que não possa funcionar como agressão.

(LA PLANCHE, 1992, p. XX)

O pai Beverly, às vezes, tratado como Bill, escritor, tem em seus
livros, o seu refúgio, mas utiliza do seu vício em bebidas uma fuga da realidade. Nas
primeiras cenas vemos que ele organiza a vida da mulher contratando uma
empregada, a índia, Jo, para fazer o trabalho da casa e levar sua esposa ao tratamento
de quimioterapia. Ele e tio Charles, os pais do filme, praticamente inexistem, pois,
Violet e Mat Fay tratam de excluí-los do convívio e, assim, eles não conseguem
exercer sua função, ao contrário do pai de Jim que assume seu papel, protegendo a
filha dos ataques de Barbara.

Violet reage ao fato de ter uma empregada índia em casa, xingando o
marido, e ao mesmo tempo dizendo que será doentiamente amável, repetindo várias
vezes a frase. Violet afirma que a empregada é muito bonita e a questiona se ela
também a acha bonita.

Num segundo momento, notamos que Bill desaparece sem deixar
pistas, mas fica claro que não é a primeira vez que o faz. Imediatamente, uma das
filhas, Ivy liga para irmã Barbara para avisar do desaparecimento do pai e a cena
encontra Barbs deitada na cama, com a cabeça coberta, o quarto totalmente escuro,
enquanto a filha adolescente a chama para atender a ligação, quando ela diz que se for
o pai da menina que ela o mande à merda.

O perverso tem a ver com autocentrismo, com estar no controle do que
é mais importante para mim em deterimento do outro. Quando uma pessoa é perversa,
ela está realmente dentro de um mundo egoico, no qual sua satisfação é o que
importa, com pouca conexão ou empatia com o sofrimento do outro, afirma a
psicóloga Karen Vogel.

Em uma outra cena, Violet está no quarto se arrumando diante do
espelho e vemos Ivy arrumando as roupas no armário enquanto a mãe a deprecia
perguntando o motivo pelo qual não se maquia, e que sua vestimenta indica uma
homossexualidade chamando-a de lésbica, o que prontamente ela desmente.

Por outro lado, também afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir, que a
maldade consiste em uma ou mais ações que provêm da impossibilidade de um
indivíduo acessar seus dons de amar, respeitar, acolher, considerar e se dedicar ao
outro ou à vida. A pessoa projeta como o mundo se apresenta a ela, ou seja, se ela
vive em um ambiente hostil, com relações que a frustam e agridem, pode usar o
maltrato como alívio. 1

Tia May Fat e tio Charles chegam, ela carregando comida e abre todas
as cortinas e tenta abrir as janelas mas as persianas estão coladas no que Ivy responde
que a intenção é não distinguir o dia da noite. Todos reclamam muito do calor,
quando Barbara chega é questionada pelo marido o motivo da mãe não ligar o ar, ela
conta a história dos periquitos que morriam e que a lojista foi averiguar e era por
conta do calor excessivo na casa, esses maus tratos causados aos animais é um traço
da personalidade perversa retratada nesta cena quando a filha narra os acontecimentos
bizarros que decorrem da morte dos pássaros.

Violet desce as escadas e recebe com euforia a filha, ignora a ajuda e
companhia das outras duas filhas e explica tudo o que houve, mas pontuando que
quando recebeu o diagnóstico do câncer ela não foi imediatamente vê-la. Nota-se uma tensão entre as duas. Barbara pede desculpas enquanto a mãe está no banheiro. Em
“Um amor conquistado”, a autora nos diz que:

Como o amor, se era natural e portanto espontâneo, poderia voltar-se mais para
um filho do que para outro? Não será isso uma confissão de que amamos a
criança em primeiro lugar pelo que nos proporciona socialmente e porque ela
lisonjeia nosso narcisismo?

(BADINTER, Elisabeth ANO DE PUBLICAÇÃO,PÁGINA)

Barbara era a filha preferida do pai, seria aquela com futuro brilhante
de escritora que abriu mão de sua carreira para seguir o marido e ser dona de casa e
mãe. O xerife traz a notícia do afogamento de Beverly e Barbara desmaia ao receber a
notícia, Violet desce e liga a vitrola e começa a dançar e rir, aponta para um retrato
em que está toda a família.

Violet impõe sua lei e obriga que todos a atendam sem
questionamento, chegando até a mesa por último, sentando-se à cabeceira e na sua
forma mais sádica, em Vocabulário da Psicanálise “humilhação infligida a outrem”,
aquilo que Freud chama de sadismo é o exercício da pulsão de dominação.

Uma das cenas mais emblemáticas é o jantar após o funeral. Todos
estão à mesa, os homens sem paletó, quando Violet chega e pede para Barbara colocar
o porta retrato do casal no móvel e insiste para que os homens coloquem o paletó,
sendo prontamente obedecida. Little Charles chega com o guisado na mão e o mesmo
cai, ocasionando uma humilhação por parte da mãe dele, irmã de Violet.

O sadismo da personagem nos diz muito sobre o fato dela ser uma
perversa, porque consiste em produzir angústia, dividir o outro, como se todos os
demais fossem castrados e ela não, ela esta ali para tamponar a falta. Como diz Paula
Kem Milagre”… a origem da perversão feminina estaria na existência de uma relação
mãe-filha perturbada, de modo que ao exercerem, posteriormente, atitudes perversas
em direção aos seus filhos, estas mulheres estariam, na verdade, vingando-se de suas
próprias mães.”

O jantar segue com uma oração feita por tio Charles, recusada por
Barbara e entre tantas coisas que acontecem, o bullying com Jim, filha de Barbara, por
conta da opção dela em não comer carne e uma discussão irônica sobre o medo que os
animais sentem quando são abatidos e que passam para quem ingere sua carne.
Barbara diz que já viu a filha comer um cheeseburguer e ela a chama de mentirosa,
Violet ri.

Em um dos comentários maldosos proferidos por Violet, ela pergunta
para o marido de Barbara se eles ainda estão casados e obtendo a resposta de que
estão morando em casas separadas, pergunta se o motivo seria uma amante mais
jovem. Vemos aqui ilustrado, um outro traço da perversão, que tem esse interesse
intrusivo por detalhes da intimidade do outro.

Madre, virgem, puta

  1. NERY Cecília Felippe. Por que as pessoas maltratam animais? É só pura
    maldade www.uol.com.br/vivabem ↩︎

Em “A maternidade perversa e suas repercussões no aparelho
psíquico da criança” Paula Kerm Milagre diz no tópico Refletindo sobre a
maternidade perversa, que “Igualmente, mães com tendências perversas fazem um
uso de seus filhos como objetos parciais para manipular, cuidar, abusar, idealizar,
destroçar e deserdar, Weldon em seu instigante livro “Madre, virgem, puta”, afirma
que a maternidade é um meio através do qual algumas mulheres exercem atitudes
perversas em relação aos seus filhos e estabelecem com os mesmos um tipo de
relação em que abusam do seu poder e controle sobre eles.

Paula Kerm Milagre salienta que “… a maternidade confere às
mulheres um papel de domínio sobre outro ser que deve submeter-se emocional e
biologicamente às suas necessidades, mesmo se estas forem inapropriadas. Em outras
palavras, a capacidade de procriação das mulheres, ou seja, de engravidarem e
abrigarem no seu corpo o bebê, proporciona características emocionais semelhantes às
que operam de forma exagerada e distorcida nas relações objetais perversas, como
desejos de absorver, invadir, desumanizar, controla e fundir-se com o outro.

Violet comenta que ela e o marido decidiram que os bens ficariam para
ela, apesar de eles não terem feito esse acordo legalmente e passa a inquirir filha a
filha, fazendo com que elas assentem com a cabeça, confirmando sua vontade, todavia
as progênitas poderiam ficar com alguns móveis que ela não quer mais.

Nesta cena, ela ignora Karen o tempo todo e a deprecia também. Em
um dado momento, pergunta quem é o homem que está do lado dela, ele se apresenta,
Karen diz que faz questão da presença de Violet no casamento ao que Violet responde
que seria muito difícil, desprezando o convite. Nesse instante, vemos a inexistência da
culpa. Todos elogiam a comida e ela diz que a empregada é paga pra isso. Egoísta na
potência máxima, não admite elogios à empregada.

O clímax do jantar fica por conta da tensão existente entre Barbara e a
mãe, quando a filha diz que vai jogar fora suas pílulas, após Violet depreciar a

memória do pai. Violet diz que se ela fizer isso é capaz de comer ela viva e então
Barbara avança na mãe derrubando-a no chão, numa briga violenta, dizendo que
quem manda agora é ela. Percebemos, portanto, não existir medo em dizer coisas
horríveis sobre o marido que se suicidou, ocasionando na explosão de Barbara que se
aproxima da mãe através da raiva, da agressividade, se identificando com essa mãe
hostil e perversa.

O filme se desenrola com vários momentos fortes, Barbara e as irmãs
conversam num gazebo do lado de fora da casa sobre seus destinos após o tempo na
casa e Ivy diz que vai embora pra Nova Iorque e, Karen, que voltará para Florida.
Barbara indaga quem ficará com a mãe e Ivy sugere que ela fique, pois ela já ficou
tempo demais cuidando dos pais.

No artigo supramencionado de Paula Kern Milagre, a autora afirma
que: “Diante desse cenário, volta-se para uma compreensão dos fatores que
contribuem para a constituição da maternidade perversa e ressalta que a mesma conta
com um forte componente transgeracional, que abarca no mínimo três gerações.”
(MILAGRE, Paula Kerm, 2015)

Assim sendo, para entendermos a mãe perversa, ela afirma que seria
necessário conhecermos a sua mãe, e por sua vez, a mãe desta, pois este fenômeno
seria resultado de uma série de abusos e abandonos infantis crônicos.

Violet está sentada num banco, quando as filhas passam e fala sobre
sua infância quando queria muito um par de botas e no Natal vendo um pacote foi
feliz abrir quando viu que eram botas sujas de merda enquanto a mãe ria
divertidamente, filha de sádica só poderia ser sádica e má também.

Quando numa conversa com a mãe, Barbara percebe que ela sabia
onde Bervely estava e não foi ao seu encontro porque preferiu ir ao banco, Barbara a
abraça, beija sua cabeça dizendo que ela era forte e vai embora no carro, deixando
Violet desesperada sendo consolada pela empregada na escada da casa, agora, sem
mais ninguém, além delas duas.

Elizabeth Roudinesco, em seu recém lançado livro, “A parte obscura
de nós mesmos: uma história dos perversos” assinala que “no que se refere á
estrutura, denominação e significação, a perversão só foi estudada pelos
psicanalistas.”

A sedução é uma arma psíquica usadas pelas mães perversas. A força
simbólica da gravidez e da maternidade são aproveitadas para se aproximar das

pessoas e das famílias com um falso senso de união e afeto. Elementos simbólicos que
prendem emocionalmente, a fim de chantagear e tirar vantagens dos membros
familiares.

Essas mães recorrem para diversas formas de interação com peso
emocional, como a incitação sexual, o choro, as supostas doenças e sofrimentos, a
dependência financeira, que influenciam de modo dominante no relacionamento,
sobretudo, com os maridos e os filhos. Essas situações são frequentes para satisfazer
as necessidades narcísicas dessas mães, gerando mal-estar na família e conflitos no
casamento dos filhos.

Considerações finais

O filme é tem uma abordagem forte e por se tratar originalmente de
uma peça teatral, nos coloca de frente à questões que nos implicam a refletir sobre o
mito da maternidade que durante séculos serviu para alimentar a fantasia da felicidade
conjugal, da plenitude feminina. Algo vindo para proporcionar a sobrevivência da
espécie através dos cuidados maternos, excluindo o homem desse papel, para que ele
pudesse se voltar tão somente para o capital, sendo o provedor da família e fazendo a
roda do capitalismo girar.

Esse falso entendimento que o instinto maternal vinha acoplado à
mulher trouxe muitas angústias e sofrimento. Uma solidão que a mulher viveu durante
muito tempo sem a ajuda de qualquer profissional que se debruçasse sobre o assunto,
gerando filhos oriundos desse sofrimento psíquico. Esses, por sua vez, chegam
sequelados a clínica, sem entender essas mães que nos ensinaram ser boas e santas,
que nutrem por nós um amor incondicional e, por consequência, sem compreender
bem esse jogo de sedução e vingança. Esses fatos apresentados, que sem estudo e
compreensão, acabam por nos aproximar delas pela mesma via, correndo o risco de
nos tornarmos novos perversos e perversas, num círculo sem fim.

Precisamos entender o que se passa com esses seres humanos, sua
estrutura, olhar sem o viés da fantasia do mito da maternidade. Observar e tentar
ajudar seus filhos e filhas e, também, as mães, nessa montanha-russa de sentimentos,
amor e ódio, fraqueza e fortaleza, sadismo e masoquismo, procurando amenizar os
efeitos na psiquê humana desta família que roda a brava figueira, figueira brava…

Referência Bibliográfica

BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado – O Mito do Amor Materno.
Editora Nova Fronteira. CIDADE E ANO DE PUBLICAÇÃO.
MILAGRE, Paula Kem. A maternidade perversa e suas repercussões no aparelho
psíquico da criança. Artigo publicação CEAPIA. Número 24, 2015.
LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da Psicanálise / Laplanche e Pontalis. São
Paulo: Martins Fontes, 1992
NERY, Cecília Felippe. Por que as pessoas maltratam animais? É só pura
maldade. Disponível em: <www.uol.com.br/vivabem> Acesso em: dia mês e ano

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