Lopes Brasil, Catia (RJ/2019)
Professor e Orientador do curso, Professor Fernando Correa
INTRODUÇÃO
O presente trabalho destina-se a explicar algumas considerações acerca do complexo de Édipo, fato que se dará superficialmente diante de uma temática tão ampla.
O trabalho de Sigmund Freud nasceu das disciplinas da psiquiatria e neurologia e sugeriu uma compreensão sobre a personalidade do indivíduo que foi de suma importância em nossa cultura, desenvolvendo diversos conceitos importantes para explicar o funcionamento psíquico do sujeito.
Para construir o conceito de Complexo de Édipo, Freud utilizou-se da mitologia grega, mais especificamente do teatro, escrito por Sófocles chamado “Édipo Rei”,será falado um pouco sobre esse mito e como ele foi utilizado por Freud.
Para a teoria psicanalítica, o momento crucial da constituição do sujeito se dá no momento da cena edípica fato que se constitui umas das problemáticas fundamentais da teoria e da clínica psicanalítica.
Será abordado um resumo de como se dá o Complexo de Édipo na menina e no menino.
E por fim elucidarei em que momento do complexo de Édipo se dá a formação do superego.
O MITO DE ÉDIPO (SÓFOCLES).
A mitologia é um repertório de narrativas que têm origem em uma cultura oral, ágrafa. Durante séculos, antes da difusão e utilização sistemática da escrita, os mitos eram transmitidos oralmente.
Como histórias sagradas, os mitos eram muitas vezes endossados pelos governantes, sacerdotes e intimamente ligados à religião. Na sociedade em que é divulgado, um mito é geralmente considerado como um relato verdadeiro de um passado remoto. Na verdade, muitas sociedades têm duas categorias de narrativas tradicionais: “histórias verdadeiras” ou mitos, e as “histórias falsas” ou fábulas.
Sófocles foi um dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores de tragédia que mostrava habilidade artística notável. Escreveu 123 peças durante sua vida, mas apenas sete sobreviveram em uma forma completa. Por quase 50 anos, Sófocles foi o mais celebrado dos dramaturgos nos concursos dramáticos da cidade estado de Atenas entre suas peças está a tragédia grega Édipo Rei.
A obra de Sófocles influenciou o campo da psicanálise através de Freud, que tornou Édipo Rei uma das colunas da psicanálise clássica. Com base na tragédia grega, o psicanalista definiu o Complexo de Édipo, para formular sua idéia de que exista na relação da tríade (pai-mãe-criança) um desejo incestuoso da criança pela mãe e a interferência do pai nessa relação
Na versão de Édipo Rei, escrito por Sófocles o mito é apresentado da seguinte forma: Laio, rei da cidade de Tebas é casado, sendo advertido pelo oráculo de Apolo que ele não deveria gerar filhos e, caso o mandamento fosse desobedecido, ele seria assassinado pelo próprio filho que em seguida se casaria com a própria mãe.
Passado algum tempo Jocasta esposa de Laio dá a luz a uma criança, o rei para fugir de tal destino, entrega seu filho a um criado, pedindo a ele que abandone a criança no Monte com os seus pés furados para que ele morresse, mas o criado não cumpre a ordem e entrega o menino a Pólipo, rei de Corinto. Eles criam Édipo como filho. Já crescido, Édipo escuta boatos de que não seria filho legítimo de seus pais, então procura o Oráculo de Delfos para tentar descobrir a verdade e saber de seu destino. O Oráculo não lhe tira a dúvida, mas lhe conta que o seu destino é matar o seu pai e se casar com a sua mãe.
Édipo para fugir deste destino abandona Corinto. Indo para Tebas, em uma encruzilhada ele cruza com Laio, seu pai, eles brigam e Édipo o mata.
Quando chega em Tebas Édipo decifra o enigma proposto pela Esfinge, que à época aterrorizava Tebas, e esta se mata. Como recompensa, o regente da cidade, Creonte, lhe oferece a mão de sua irmã Jocasta. Eles se casam, tem 4 filhos e Édipo passa a ser o Rei de Tebas sem nem suspeitar que a profecia havia sido cumprida.
Após alguns anos a peste e a fome caem sobre Tebas. O Oráculo diz que as desgraças só passarão quando o assassino de Laio for expulso da cidade.
Édipo sai a procura do assassino sem saber que se tratava dele mesmo.
Por fim, Édipo descobre que matou seu pai de fato e casou-se com a sua mãe, consequentemente é irmão e pai de seus filhos ao mesmo tempo. Jocasta se mata enforcada, Édipo fura os próprios olhos e se exila.
O COMPLEXO DE ÉDIPO.
Uma boa maneira de iniciarmos este percurso pelas especificidades do Complexo de Édipo é defini-lo como conceito. Para tanto, contamos com a ajuda do consagrado verbete de Laplanche e Pontalis (1992), que o caracteriza como um:
De acordo com o pensamento freudiano, o Complexo de Édipo é vivido entre os três e os cinco anos na fase fálica.
O complexo de Édipo é um período importante e determinante para a construção psíquica do indivíduo.
Para entendermos melhor como isso se dá, voltaremos um pouco no tempo com o nascimento do bebê.
O ser humano quando nasce é um ser totalmente dependente do outro , fato que faz com que ele esteja muito ligado a sua mãe ou ( pessoa que cumpre esse papel), ao ser alimentada e cuidada por ela a criança nutre sensações de prazer e desprazer, enxergando-a como uma extensão do seu próprio corpo acreditando ser ela o único objeto de desejo da mãe, denomina-se o nome dessa fase com oral.
A criança dirige toda a sua libido para sua mãe.
Para Roudinesco e Plon (1998 pg. 471) libido é:
Conforme o corpo e o aparelho psíquico vão amadurecendo e novas maneiras de interação com o mundo vão surgindo, a libido procura satisfação na realização de outras atividades para além da região da boca . A criança começa a controlar a vontade de realizar suas necessidades fisiológicas, como urinar e evacuar, O controle dos esfíncteres provoca dor e ao mesmo tempo prazer na sua liberação e de acordo com o reforço dos pais pelo controle que a criança exerce, ela passa a controlar cada vez mais e até reter as eliminações para obter recompensas, fase essa denominada como fase anal.
Em seguida a criança começa a focalizar as áreas genitais do corpo e toma consciência das diferenças sexuais. É também a fase do Complexo de Édipo, no qual o menino deseja a mãe e a menina deseja o pai.
Existe uma distinção importante a ser considerada nesse processo, o menino sai do Complexo de Édipo pelo complexo de castração, já a menina entra no Complexo de Édipo através do complexo de castração.
Adiante apontarei algumas diferenças entre o complexo de Édipo feminino e masculino de acordo com Freud:
Complexo de Édipo masculino:
O menino descobre que tem um pênis e elabora a ideia de que todas as pessoas o tem também, mantém a mãe como objeto de amor, já que ela satisfaz a todas as necessidades dele,desejando substituir o pai nessa relação, manifestando comportamentos que comprovam esse desejo. Recebe ameaças constantes e constroi a ideia que será castrado, caso continue com os seus desejos incestuosos. Ao mesmo tempo descobre a anatomia diferente nas meninas e imagina que a castração acontece devido aos seus desejos proibidos. Ao mesmo tempo descobre que sua mãe é mulher e também não tem pênis e inconscientemente sente-se ansioso com essa descoberta . Depois de todas essas etapas se dá a dissolução do complexo de Édipo e de castração. O menino não quer mais assumir o lugar do pai e aceita a lei paterna.
Para Násio o que leva a angústia de castração é
Complexo de Édipo feminino:
A menina através de alguma experiência, vendo seu pai ou até outras crianças percebe a diferença anatômica do seu órgão , fantasiando a ideia de que com o tempo seu clitóris irá crescer e se transformar em um pênis . Quando a menina se dá conta que isso não irá acontecer Freud afirma que surge três possibilidades:
A primeira – A menina percebendo que seu clitóris não vai virar um pênis ela abandona toda a sua sexualidade o que seria a frigidez.
A segunda – A menina não aceita o fato de seu clitóris nunca virar um pênis com isso fica muito ressentida e acaba adotando um complexo de masculinidade, acaba se identificando com um homem.
A terceira – A menina percebe que não tem um pênis, aceita essa realidade e passa a buscar esse pênis de uma forma simbólica na figura do pai, entrando assim no Complexo de Édipo. Troca o investimento amoroso da mãe pelo pai e abandona a ligação com a mãe. A mãe agora passa a ser sua rival.
A saída do Complexo de Édipo no menino é a castração, e na menina?
Segundo Freud
Enfim, Édipo não é somente uma crise sexual de crescimento, mas também a fantasia que essa crise molda o inconsciente infantil. Essa experiência edipiana fica registrada no inconsciente da criança como uma fantasia que se definirá com a identidade sexual do sujeito, traços de sua personalidade e a maneira de como ela deve gerir seus conflitos afetivos.
Para Násio, Édipo é
1. Uma chama de sexualidade vivida por uma criança de quatro ou cinco anos no cerne da relação com seus pais.
2. É uma fantasia sexual forjada inocentemente pelo menino ou pela menina para aplacar o ardor de seu desejo.
3. É também a matriz de nossa identidade sexual de homem e mulher, pois é durante a crise edipiana que a criança sente pela primeira vez um desejo masculino ou feminino em relação ao genitor do sexo oposto.
4. É ainda uma neurose infantil, modelo de todas as nossas neuroses adultas.
5. É uma fábula simbólica que põe em cena uma criança encarnando a força do desejo, e seus pais encarnando também o objeto desse desejo quando o interdito que o refreia.
6. É a chave mestra da psicanálise. É o conceito soberano que gera e organiza o dos os outros conceitos psicanalíticos e justifica a prática da psicanálise.
7. É, enfim, o drama infantil e o inconsciente que todo analisando representa na cena do tratamento ao tomar seu psicanalista como parceiro.
Após a fase fálica as crianças entram em um novo estágio denominado fase de latência onde a libido é reprimida e temporariamente direcionada para o desenvolvimento intelectual e social da criança,
Ao contrário do que acontece nas demais fases do desenvolvimento (oral, anal fálica e genital), na fase de latência não se identifica uma zona específica de erotização. Isso significa dizer que a energia libidinal não está investida somente no próprio corpo. Podemos dizer que a libido sexual está adormecida.
O mundo que antes era constituído pelos pais agora passa a ser constituído de mais pessoas e situações.
É a fase do declínio do complexo de Édipo.
O declínio do complexo de Édipo naturalmente coincide com o início da constituição do superego.
O SUPEREGO COMO HERDEIRO DO COMPLEXO DE ÉDIPO.
O aparelho mental é formado por três estruturas: o id, o ego e o superego. Elas compõem a psique humana e constituem a Teoria da Personalidade de Freud. Cada uma dessas estruturas é responsável por algum aspecto da personalidade de cada indivíduo e pelo modo como cada um interage com outras pessoas.
O id é a parte da psique responsável pelos sentidos primitivos, que consistem nos desejos, vontades e instintos. Ele já nasce com o indivíduo e está sempre em busca do prazer, não lida bem com as frustrações.
O ego é regido pelo princípio da realidade, sendo um equilíbrio entre os instintos primitivos do Id e as repressões e regras impostas pelo superego. Essa estrutura mental começa a surgir já nas primeiras interações do ser humano com o mundo externo, ou seja, com a sua própria realidade.
O Superego é a instância onde ficam as normas, leis, regras vigentes na sociedade e contexto em que o sujeito vivencia. Ele é formado depois do ego, no momento que a criança começa a assimilar todos os valores herdados dos pais. Segundo Zimerman
É necessário destacar que mesmo que o sujeito não execute um ato de fato, a partir do momento em que ele fantasiar ou desejar algo o superego já entra em ação.
CONCLUSÃO
O Complexo de Édipo é a situação psíquica culminante do desenvolvimento psicossexual infantil proposto por Freud. A proposta teórica e clínica freudiana estão alicerçadas neste conceito e, por conseguinte, é preciso compreendê-lo para que se possa entender a clínica psicanalítica.
Quando Freud introduziu a noção de fase fálica ele reconheceu a existência já na infância de uma organização da sexualidade muito próxima à existente nos adultos.
Para Freud, esse triângulo que se dá entre mãe, pai , filho ou filha irá condicionar a personalidade da criança e estabelecer normas a fim de permitir a assimilação de uma ordem social e cultural do indivíduo.
O objetivo proposto neste trabalho é na verdade fomentar a curiosidade do leitor sobre o tema e das diversas vertentes de possibilidades de assuntos referentes ao mesmo.
Referência Bibliográfica
FREUD, Sigmund, 1856-1939 -Obras completas volume 16: O eu e o Id, “autobiografia” e outros textos (1923-1925) / Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza – São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
LAPLANCHE, Jean Vocabulário da psicanálise / Laplanche e Pontalis ; sob a direção de Daniel Lagache ; tradução Pedro Tamen. – 4a ed. – São Paulo : Martins Fontes, 2001. Disponível em :https://edsonsoaresmartins1973.files.wordpress.com/2018/07/laplanche-vocabulc3a1rio-de-psicanc3a1lise.pdf. Acesso em 03 de abril de 2019.
NÁSIO, Juan – David Édipo: O complexo do qual nenhuma criança escapa/J.-D.Nasio:tradução, André Telles. – Rio de Janeiro: Zahar,2007. Disponível em: https://psicossemioticas.files.wordpress.com/2013/10/livro_nasio-j-d-edipo.pdf. Acesso em 02 de abril de 2019.
ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos:teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática/ David E. Zimerman. – Porto Alegre: Artmed, 1999.