A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA MULHER NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA.

A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA MULHER NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA.

SANTOS DE SOUZA, JOSE DE RIBAMAR (RJ/2022)

Orientadora: Professora Mestre e Doutoranda em Psicanálise Andréa Pinheiro Bonfante

RESUMO

Houve mudanças significativas em relação ao papel da mãe na família, seja nas áreas urbanas ou rurais, nas classes populares ou não. Mães que assumem a maternidade sem a participação dos pais. Mulheres inseridas no mercado de trabalho que se tornam participantes ativas no orçamento familiar, mudando assim a relação entre homem e mulher, assim como com seus filhos, mulher que cuida da casa e cuida da educação das crianças, não perdendo sua característica principal que é ser atenciosa, carinhosa e doadora de afeto a família para quem trabalha.

PALAVRAS-CHAVE: filhos; família; mãe; mulher; trabalho

INTRODUÇÃO:

O enredo do filme “Que horas ela volta” gira em torno da vida de uma empregada doméstica cujo o apelido é Val, que sai do Nordeste deixando sua filha pequena com sua mãe e vai para o Sudeste em busca de trabalho com a responsabilidade de contribuir com o orçamento familiar e a educação dessa filha.  Tendo conseguido um trabalho, Val passa a morar e trabalhar para uma família de classe média alta, constituída pelo casal José Carlos e Bárbara, cujo filho único se chama Fabinho. E com essa família estabeleceu um longo vínculo de trabalho.

Anos mais tarde, sua filha Jéssica passa a morar na casa de seus patrões e com essa proximidade há um rompimento no equilíbrio dessa família, pois ela começa a se comportar como uma hóspede e não como uma subalterna, o que Val considerava ser o posicionamento correto. Embora esse comportamento causasse a princípio uma certa estranheza em Val, a conduta de Jéssica provoca a conscientização de Val, fazendo-a compreender seu lugar enquanto sujeito, ajudando-a se libertar da família dos patrões e recuperar sua identidade. Com isso ela se demite do emprego e monta sua própria casa num bairro popular, onde vai morar com sua filha e se dispõe a receber o neto, cuja a existência desconhecia.

A importância do papel da mulher na família contemporânea 

Ao analisar a relação entre José Carlos e Val, vemos como ela se aproxima da visão estereotipada do patrão patriarcal e da empregada submissa. Apesar de ser o dono do dinheiro, José Carlos não se posiciona como um chefe familiar e delega essa função à sua mulher Bárbara que passa a ser a detentora do falo. José Carlos não trabalha, toma medicação antidepressiva que lhe é ministrada por Val, encarna um patriarca esvaziado e impotente, o que pode ser claramente percebido no filme que evidencia o declínio da figura paterna nos dias de hoje, com o subsequente empoderamento da mulher e do poder materno.

Na família quem exerce a função materna é Val. É ela quem cuida da casa, do patrão e do filho adolescente. É significativo que Val tenha se transformado na “mãe” da família. É como se a divisão primária entre seio bom e seio mau proposta por Melanie Klein não tivesse tido uma integração adequada, fazendo com que ela mantivesse uma dupla identidade com esses aspectos maternais. Por um lado, ela assume o papel de mãe boa, idealizada, carinhosa e cuidadosa com todos, projetando nos demais sua própria necessidade de cuidados. Por outro lado, enquanto mãe má, abandona a filha, ainda que não inteiramente, pois custeia suas despesas. A coexistência dessas identificações se complica com o fato de sua posição de “mãe” de família se alternar com a condição submissa e impotente enquanto empregada doméstica, inconscientemente equiparada à posição infantil necessitada de cuidados e proteção por parte de pais fortes, que se faz na figura de seus patrões.

Esse desmoronamento familiar se deu com a chegada de sua filha Jéssica à casa em que trabalha, a tolerância da patroa em relação a Jessica desaparece ao se dar conta de que ela não migrou para São Paulo visando ocupar subempregos e sim prestar vestibular, concorrendo com seu filho por uma vaga na mesma faculdade. O clima piorou com as atitudes da jovem que em nenhum momento ocupou o seu lugar “submisso”, que a dona da casa julgava ser o adequado, ao contrário disso Jéssica foi tratada como hóspede por um breve período. A partir desse momento as coisas definitivamente começam a dar errado causando um grande desconforto na família quando ela foi aprovada no vestibular e Fabinho não.

As tensões trazidas por Jéssica provocam uma mudança radical em Val, fazendo-a tomar consciência da alienação em que vivia e reencontrar sua identidade perdida. Val passa a viver a própria vida e não mais a da família postiça, deixa de morar com os patrões e passa a viver em uma pequena casa alugada para si e sua filha. Somente nessa casa as duas conseguem resolver os seus conflitos e colocarem em pratos limpos velhas questões. Jéssica cobra da mãe o fato de tê-la abandonado no interior de Pernambuco para ser criada por parentes e ter passado anos sem visitá-la.

A valorização do papel da mulher como mãe tem sido continuamente ressaltada pela doutrina social da igreja. Já em 1930, o Papa Pio XI alertava para a questão da emancipação da mulher como esposa e como mãe, o que não significa que a mulher não deva trabalhar em uma empresa ou exercer um cargo público. Não significa que a Igreja defenda com firmeza a igualdade entre o homem e a mulher na dignidade humana e os direitos fundamentais que ambos têm como pessoas. Em outras palavras, tanto na vida profissional ou empresarial, social e política, a promoção da mulher precisa passar por um efetivo reconhecimento de igualdade de direitos com o homem.

Preocupado em atender as necessidades das famílias, o governo francês concede desde 1992, vantagens fiscais para a promoção dos trabalhos nos domicílios, não para retirar as mulheres do mercado de trabalho e sim para que elas possam cuidar de suas  famílias sem desistir de suas carreiras, abrindo possibilidades para pequenas e médias empresas, e dessa forma muitas famílias veem no seu próprio negócio uma possibilidade de poder compartilhar o tempo com filhos, cônjuges e demais atividades de um lar. Em relação ao trabalho da mulher, há diversas empresas brasileiras que facilitam o trabalho das mães empregadas oferecendo serviços de creche, horário flexível, possibilidade de trabalhar em casa etc.

A Incepa, indústria de cerâmica, Avon indústria de cosméticos, Azaleia indústria de calçados, Kodak brasileira indústria eletrônica e ABB indústria eletrônica oferecem além da creche, flexibilidade de horário, permitindo as mães chegarem até uma hora atrasada ou finalizarem sua jornada 30 minutos antes e com interrupções para a amamentação durante sua jornada.

A atividade da mulher no lar tem uma importância fundamental na formação inicial do caráter e na educação dos filhos e para isso se faz necessária a sua presença. É um discurso recorrente dessas mães de que sua ausência no lar se justifique apenas por razões econômicas sérias. Diante dessa realidade, as empresas nacionais deveriam olhar para essa condição de forma mais atenta, promovendo iniciativas que minimizassem esse impasse e também seria interessante se tivéssemos políticas públicas e legislações mais adequadas e justas.

Historicamente, o papel da maternidade sempre foi construído como o ideal máximo da mulher, caminho da plenitude e realização da feminilidade. A mulher é biologicamente pré-determinada a gestar, e foi criada, desde os tempos primitivos a cuidar da prole. A família sofreu mudanças significativas com o passar dos tempos. Atualmente, um número cada vez maior de mulheres trabalha fora de casa e contribui com a renda familiar. Além da maternidade, muitas mulheres preocupam-se com sua realização profissional. Há poucas décadas, a identidade da mulher estava diretamente associada a maternidade, ou seja, ela nascia para o casamento e para a procriação, hoje se abrem novos horizontes para uma mulher mais consciente e livre para escolher, assumindo uma multiplicidade de papeis, que até pouco tempo atras eram considerados inimagináveis. A maternidade, por exemplo, já não é mais um destino irrefutável e obrigatório para a mulher.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a mulher contemporânea, trabalhar e ser uma profissional bem sucedida é somar responsabilidades, mais que isto é, frequentemente, suportar certa medida de conflitos e culpa. Vale acrescentar que essas mudanças presentes e marcantes na família brasileira ampliaram a autonomia feminina, não obstante tenham levado a um acumulo de funções, pois as mulheres passaram a dividir com os homens o sustento da casa e a exercer as novas funções maternas. Este exercício profissional da mulher, mãe, esposa e dona de casa requer, por parte dela, uma solida estrutura de personalidade, uma capacidade rápida de decisão e uma grande habilidade para contornar os múltiplos problemas e contratempos que encontra na sua caminhada diária em busca de uma auto realização dentro e fora do lar. A profissionalização feminina não implica na renúncia de um casamento ou maternidade. Algumas mulheres frente ao medo desse fracasso, optam pelo afastamento profissional após o nascimento de um filho. Contudo, ter uma atividade remunerada pode significar maior autonomia e poder de decisão, inclusive sobre sua vida reprodutiva, o que as leva a buscar formas alternativas de conciliar a maternidade e o trabalho, com o trabalho informal, em tempo parcial, domiciliar, ou em empresas que oferecem algum apoio a funcionárias que tem filhos pequenos, como creches e horários flexíveis. Este é um tema relevante que pode ser investigado, já que os novos papeis desempenhados pela mulher na família tem resultado em mudanças na estrutura familiar.

Referência Bibliográfica

“que horas ela volta?” filme de Anna Muylaert (2015) Brasil

Sigmund Freud, [1915] “pulsões e destinos da pulsão’ Rio de janeiro: imago, 2004, v. I. 

Sigmund Freud, (1909 [1908]) Romances familiares. Vol. IX. rio de janeiro: Imago 1996

Badinter, E (1985) Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de janeiro:  nova fronteira.

Badinter, E (1986) Um é o outro: relações entre homens e mulheres. Rio de janeiro: nova fronteira

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